"Boogeyman: Seu Medo é Real", o medo de seguir em frente.

      Baseado na obra do mestre do terror, Stephen King, este é um filme sobre perdas e os fantasmas que assombram seu entorno, onde o inaudível precisa ser preservado. Os ruídos são a resposta; eles trazem os detalhes que mandam na jornada coerente e auspiciosa. Destacar o simples com dinamismo e realizar com coração é o que há de mais lindo no ato funcional de um cineasta e o público muitas vezes percebe isto e abraça com carinho. Rob Savage consegue em “Boogeyman” mais que um feito convencional, ele encontra sentido nos demônios reais e os mapeia no lúdico com eficácia.

     Sadie (Sophie Thatcher) e Sawyer (Vivien Lyra Blair) acabam de perder sua mãe. Will (Chris Messina) é um pai e terapeuta que se vê no desafio de encaminhá-las para a vida adulta e vencer a saudade que sente da esposa. Neste contexto, portas rangem e cantos escuros parecem povoados por uma energia destrutiva e modeladora de sensações. Ao discorrer da história, nossos heróis questionam se é ali onde mora os seus medos reais.

      Só quem perdeu alguém essencial em sua vida sabe como é sentir o pânico que se faz presente junto ao sentimento de incerteza. Encarar o medo de seguir em frente é como caminhar no escuro sem saber por onde. Mentes mais sólidas permanecem resilientes e as mais sensíveis perdem o chão e expõe sua fragilidade. Mas o que é a força e como superar a dor do luto? É sobre encarar os fantasmas todos os dias, amadurecer para vida e entender que os "monstros no armário" precisam permanecer lá, o que não quer dizer que não existam.

     Sempre defendi o mistério e terror como ferramenta metafórica da vida. Sem isto, é um mero devaneio que duram de 90 a 100 minutos e ficam na memória. Na arte não há equívocos quando se faz com o coração, apenas são conexões ainda não estabelecidas. Savage está atento a isto ao levantar uma “parede” bloco a bloco, nem que seja somente para dividir a cozinha da sala e não inventa moda, mas a faz acontecer. Antes das maiores inovações há a base e no básico também há beleza.

     Estamos todo tempo na companhia magnética de Sophie Thatcher (de “Yellowjackets”, a série), Chris Messina (do recente “Air: A História por Trás do Jogo”), Vivien Lyra Blair (de “Obi-Wan Kenobi”, a minissérie) e do cada vez melhor, David Dastmalchian (de “Oppenheimer”). Destaque para Sophie e David que mais uma vez entregam personagens envolventes pelos quais nos importamos sobremaneira.

     “Boogeyman” não é para todos, encaixa-se no tipo de cinema mais clássico, baseado na literatura de King. Entrega sustos no “timing ideal” - aqueles que Hollywood custa a aprender - e com isso, nos deparamos com uma obra que tem o que dizer e promete uma experiência que pode não marcar a vida, mas valorizar o nosso tempo com dedicação.

Comentários

Postagens mais visitadas